Fisioterapia Manipulativa uma especialidade não explorada no Brasil?

Gilberto Costa Jr e Pablo Fabrício Flôres Dias

Em 1974 foi criada a IFOMPT sigla que representa, Federação Internacional de Fisioterapeutas Manipulativos Ortopédicos, que é um subgrupo da Fisioterapia Mundial ligada a Organização Mundial de Saúde (OMS). A IFOMPT representa grupos de fisioterapeutas manipulativos em todo o mundo que concluíram programas rigorosos de formação ou pós-graduação na área de distúrbios neuromusculoesqueléticos. A IFOMT tem como premissa fundamental o desenvolvimento da especialidade manipulativa com um foco particular no diagnóstico e tratamento neuromusculoesquelético com práticas baseadas em evidências.

Em 1967 Geoffrey Maitland, Freddy Kaltenborn e Stanley Paris, no Saint Thomas Hospital em Londres, iniciaram os movimentos para o estabelecimento de uma entidade nova que viria a revolucionar a Fisioterapia a nível mundial, sendo que em 1974 foi eleito primeiro presidente, o norte americano, Dick Erhardt, com atuação fundamental do norueguês, Freddy Kaltenborn.

Com o tempo a IFOMT criou diretrizes em consensos na Fisioterapia Manipulativa Ortopédica. Um deles foi a chamada Competência 13 da Dimensão 5. De acordo com s parâmetros do consenso da IFOMT, conhecido como D5K13 (Dimension5 Kompentency13), onde o fisioterapeuta manipulativo, incorpora conhecimentos de técnicas quiropráxicas no tratamento manipulativo ortopédico. A habilitação deste curso de extensão é de fisioterapeuta manipulativo com ênfase em técnicas quiropráxicas.

A fisioterapia é uma profissão generalista e apresenta diferentes vertentes e a abordagem terapêutica da terapia manual ou manipulativa ainda apresenta uma lacuna regimental nos dias de hoje na Fisioterapia Brasileira. Ao tornar no Brasil a Quiropraxia e a Osteopatia especialidade da Fisioterapia, a autarquia regulatória deixou omissa a identidade de Fisioterapia Manipulativa e de certa forma muitos profissionais passara a compreender que houvesse uma fusão destas diferentes disciplinas de cuidados em saúde como se representassem apropriadamente a fisioterapia manipulativa, fazendo com que estas, a Quiropraxia e a Osteopatia fossem vistas como técnicas de Fisioterapia Manipulativa. O equívoco é justamente considerar a Osteopatia e a Quiropraxia como técnicas, pois na realidade não são técnicas, são na realidade vastas disciplinas de cuidado, possuindo dentro delas, várias subespecialidades, métodos de diagnósticos diversos e vários sistemas distintos de procedimentos e técnicas. Ainda o conceito de identidade cultural e filosófica distingue a fisioterapia manipulativa, que apresenta uma raiz muito mais científica, já que a Quiropraxia e a Osteopatia, que também prezam pela ciência, porém com uma raiz muito mais filosófica, o que interfere e distingue a formação e a identidade destes especialistas.

Em 2013 em consonância com as diretrizes do COFFITO foi criada a ANAFIQ, com o propósito de contribuir com a estruturação da atuação profissional do Fisioterapeuta em Quiropraxia e também em Fisioterapia Manipulativa, pois a gestão da ANAFIQ em consenso compreendia que a Fisioterapia Manipulativa e Quiropraxia eram duas formações distintas para o Fisioterapeuta e que a atuação em Fisioterapia Manipulativa deveria seguir os conceitos similares da IFOMT.

Desta forma, Fisioterapeutas Manipulativos podem também utilizar técnicas quiropráxicas, osteopáticas e de medicina manual como recursos fisioterapêuticos, sendo neste caso recomendada a formação mínima de 100 h. Não cabe a estes profissionais o uso da titulação de especialista ou mesmo de Fisioterapeuta Quiropraxista, pois a formação neste caso direciona ao emprego apenas de algumas técnicas como recurso terapêutico da Fisioterapia, de acordo com o consenso da IFOMT D5K13. Assim, pela ANAFIQ os profissionais que seguiriam a formação complementar em Quiropraxia, deveria exercer uma formação compatível respeitando base curricular mínima, carga horária, tempo de formação (no mínimo dois anos adicionais e 1500 h de formação após a graduação de Fisioterapeuta) e premissas relacionadas com a identidade específica desta disciplina de cuidados em saúde, com formações legítimas e devidamente registradas perante a ANAFIQ.

Conheça algumas técnicas de Fisioterapia Manipulativa Ortopédica:

 TERAPIA MANUAL: CONCEITO MAITLAND

Enfatiza um processo de pensamento específico, utilizando a avaliação permanente como parâmetro para classificar o sucesso ou fracasso do procedimento elegido. É necessário saber quando, por que e como utilizar uma técnica para adaptá-la à individualidade de cada paciente.

Geoff Maitland apresentava uma clara diferenciação entre manipulação e mobilização. Ele se tornou um defensor fervoroso de mobilizações passivas e suaves no tratamento da dor, além das técnicas mais tradicionais de alta velocidade e baixa amplitude para ganhar mobilidade articular.

Maitland apresentou uma metodologia de mobilização baseada em graus de movimento. Os graus são classificados de I à V, onde os graus I e II são mais exteroceptivos utilizados em momentos que visam o controle da dor, com baixa amplitude de movimento e variando a quantidade de impulsos por segundo (Hz), onde o grau I trabalha-se entre 0,5 e 1Hz e o grau 2 com 2Hz.  O grau III e IV visam ganhar ADM sem o emprego de técnica alta velocidade e baixa amplitude (HVLA). Quando optado pelo grau 3 o terapeuta chega no final da ADM e recua a pressão da mobilização aplicando frequência de 0,5 à 1Hz, estando indicada para início do ganho de amplitude de movimento e controle da dor. O grau IV é uma mobilização realizada no final da amplitude de movimento, devendo ser aplicada quando a rigidez é predominante sobre a dor. Sua frequência é trabalhada por volta de 2Hz. As técnicas de grau V são técnicas de impulso que no conceito só deve ser aplicada para ganho de ADM.

O CONCEITO KALTENBORN E A REGRA CONVEXO-CONCAVO

Freddy Kaltenborn foi um gênio da terapia manual ortopédica e embora tenha desenvolvido diversos conceitos biomecânicos e ergonômicos sua maior contribuição para o tratamento das afecções do sistema neuro-musculoesquelético tenha sido a abordagem na regra concavo-convexo e convexo-concavo. Ele demonstrou que quando uma superfície convexa da articulação está se movendo, o rolamento e o deslizamento ocorrem na direção oposta. O terapeuta move uma superfície articular convexa oposta à direção do movimento restrito para provocar a cápsula na mesma direção do deslizamento.

Quando uma superfície articular côncava está se movendo, o rolamento e o deslizamento ocorrem na mesma direção. O terapeuta move uma superfície articular côncava na mesma direção da direção do movimento restrito. A cápsula oposta é provocada. A fixação da cápsula no côncavo é próxima à linha articular, enquanto a fixação na convexa está longe da linha articular. Por exemplo: num paciente com restrição de mobilidade para rotação externa do úmero a restrição se encontra na cápsula anterior. Kaltenborn propõe que ao invés de forçarmos a mobilização da capsula anterior através de movimentos de translação anterior da cabeça do úmero, forçando uma região que está hiperestimulada, deveríamos estimular a cápsula anterior transladando a cabeça do úmero posteriormente, o que levaria um alongamento da cápsula anterior sem o contato da cabeça do úmero empurrando a cápsula e ativando, possivelmente nociceptores. Como a superfície do úmero, convexa, é maior que a da cavidade glenoide, concava, quando realizarmos um movimento de deslizamento posterior a cápsula anterior é alongada e dessa maneira poderíamos ganhar mobilidade em rotação externa.

O CONCEITO MULLIGAN

Esse modelo de tratamento nasceu acidentalmente enquanto Brain trabalhava em sua clínica utilizando o modelo de tratamento de Kaltenborn aplicando um deslizamento articular na articulação interfalangiana do dedo de um paciente. Enquanto tratava o dedo, Mulligan, conversava com outras pessoas presente na clínica e seu paciente começou a mexer o dedo. Espantado com o que o paciente fazia Mulligan pediu para que o paciente não mexesse o dedo, quando foi surpreendido com a argumentação do paciente que relatara que enquanto movimentava o dedo a dor melhorou e a amplitude aumentou. Nascia assim a mobilização com movimento (MWM), técnica que trabalha a artrocinemática (movimento que acontece dentro da articulação) e osteocinemática (movimento que acontece fora). Dessa maneira além de favorecer os ganhos locais e neurofisiológicos proporcionado pelos estímulos dos proprioceptores trabalha-se também a estabilização articular uma vez que se cria engramas corretos de movimento, uma vez que a técnica só pode ser executada se o terapeuta encontrar um ponto de ausência de dor que permaneça sem dor no final da amplitude de movimento, mesmo com a aplicação de uma sobre-força (pressão).

O conceito Mulligan vai além do MWM, existindo técnicas passivas, porém a técnica que possui maior número de pesquisas são as de mobilização com movimento.

MÉTODO MACKENZIE MDT

Também conhecido como Diagnóstico e Terapia Mecânica®, (em inglês, Mechanical Diagnosis and Therapy® – MDT) é um protocolo de avaliação e tratamento de problemas da coluna e extremidades. O MDT, é um método muito versátil que contribui para diminuição do uso de medicação e aposta na autossuficiência do paciente. Pode ser aplicado em diversos momentos terapêuticos, incluindo na fase aguda, atuando também na prevenção da dor, na ampliação da consciência corporal e menor custo ao paciente.

O MDT promove a adoção de posições e ou movimentos preferíveis que possam promover o alívio da dor, recuperação funcional e reabilitação mecânica.

Promovendo assim a melhora do paciente, aumentado sua satisfação com os exercícios realizados tanto na clínica quanto em casa, com o foco de abolir a dor e recuperar função da coluna ou da articulação.

MÉTODO POLD

Estratégia terapêutica criada em 1990 pelo fisioterapeuta espanhol, Dr. Juan Vicente López Díaz. Baseia se na aplicação de uma mobilização passiva oscilatória com a frequência da ressonância sobre a coluna vertebral, tecidos moles e articulações, mantida durante toda a sessão de tratamento de forma a obter efeitos neuro-fisiológicos e biomecânicos de eficácia terapêutica. O método POLD tem aplicação no controle da dor musculoesquelética bem como nas patologias da coluna (hérnias e protusões discais, radiculopatias, escolioses etc.), nas patologias articulares degenerativas, nas limitações articulares, em lesões de sobrecarga muscular, aderências fasciais e desequilíbrios das cadeias musculares. Sua aplicação dispensa o emprego do “thrust” ou da mobilização articular convencional.

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